quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Cidinêi Chel, Dom

Quando vira a meia-noite e tendo lido certas coisas adequadas (ou inadequadas, dependerá do ponto de vista do leitor) o meu humor vira uma coisa tão incrivelmente Mr. Hyde que não é possível contê-lo e ele extravasa pelos dedos pelos poros pelo ar bafejado das narinas, em haustos disparados soprados que correm malucos sobre as teclas desse computador feito de duas caixas de papelão, um arame e um rolo de duréqui. Ele voa matreiro ligeiro e escreve as coisas mais geniais e totalmente ID-ílicas que guardo aqui no mais profundo escuro do baixio do ventre, lá onde tudo é eu e nada mais. Elas nascem cantando dançando loucas, desvairadas com olhos de personagem de Fernando Gonzalez e corpo de H.R. Giger, e elas querem dançar o frevo e pensam que são bonecos cabeçudos das ladeiras de Olinda.

Quando vira a meia-noite e tendo me intoxicado das coisas certas na sua exata medida - dois tylenol 750, dois pedaços de chocolate Tá-Lento com passas anciãs dentro, dois goles de coca cola sem gás e dois bocados de comida chinesa de dois dias atrás - os humores do corpo me nascem novos como se brotando pela primeira vez a seiva da maturescência dos hormônios peculiares que trazem a abstração e o conhecimento, essa coisa amorfa que se guarda a si mesma na raiz da mandrágora e também nos pedacinhos de gengibre. Novos os fluidos todos, brilham os olhos, brilha o cérebro, brilha tudo numa efusão goianense de Césio-137 pela percepção do velho com os olhos do novo, e é como se estivesse de novo agora com a idade do meu filho, trinta anos na cara mas treze anos no olhar e tudo parece delirantemente jovem-velho, é o olhar jovem desvestindo a traparia velha que cobre tudo o que não há de novo sob o sol.

O problema, que o senhor Cidinêi já sabia, é que a meia-noite tem duas metades, e sempre há a metade anterior que vem antes da posterior e que virá necessariamente após a posterior de novo, o outro lado da meia-noite que passo do lado errado do computador, do lado errado da sala, do lado errado dos papéis, do lado errado da rua, do lado errado do mundo, do lado errado da vida. E que me dão solidez segurança solidariedade para compartir esse mundico de meia-meia-noite com todas essas pessoas que amo e dependem de mim. E que nem sonham, nem sonham, o baile anárquico gomorreano e desenfreado que se instala nessa mente nesse corpo se houver adequadas condições de temperatura e pressão, se houver suficiente intoxicação pelos males da cultura con-fusion, se houver nenhum motivo para rir desvairada, se houver amanhã.

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