quarta-feira, 11 de junho de 2008

pacto

Então fica combinado assim: você não pergunta e eu nunca responderei. Eu não lhe contarei de todas as vezes em que os seus atos, ações e omissões me magoaram absurdamente e de como me senti terrivelmente abandonada por toda uma vida, desejando entender o que havia por trás daquilo tudo, e você passará a se comportar com gentil distância e fria polidez. Você não dirá mais nenhuma das suas espinhosas palavras que estalam como chicotes, não fará nenhum questionamento, nem mesmo me fitará com seu permanente olhar inquisitivo e, em troca, eu me compromento a manter tudo aquilo que sou - e que você não sabe, nunca soube, não quis saber - a uma distância segura da sua agora embotada capacidade de percepção. Andaremos então cada vez mais juntas, nesse estranho período que combinará o limiar da minha meia-idade com os primeiros sinais da sua senilidade. Eu não farei nenhuma exigência, meus lábios não mais se abrirão para qualquer reclamação. Eu lhe darei sorrisos, tão sinceros e abertos quando possível. Em troca, o rosto no espelho será cada vez mais o seu, e assim nunca mais me sentirei sozinha.

Um comentário:

Ana Roberta disse...

pacto necessário. o encontro de iguais é sempre inevitável - no meio ou no fim da estrada.