segunda-feira, 21 de julho de 2008

velha sem saco

Fiquei dias sem conseguir logar aqui. É. Não pergunte, eu também não entendi. Subitamente, out of the blue, consegui entrar. Ficou a sensação de ter esquecido a chave em casa e batido a porta. A diferença é que eu sei arrombar minha própria porta caso esteja fechada só no trinco.

Eu estou ficando velha. No sentido 'velho' do termo. Não só pela passagem do tempo, eu envelheci repentinamente. Já não entendo muito bem os sites e consigo a proeza de ficar trancada fora deles. Tenho um filho jovem que me faz lembrar de quando fui jovem, e parece que foi ontem mas foi há muito tempo. Os meus pais estão cada vez mais velhos e doentes, a ponto de eu agradecer todos os dias por ainda ter pais. Eu sabia português, e eu sabia que sabia, agora me pego súbita no meio da frase desconfiando dela e sem conseguir lembrar se aquilo está correto ou não. Desaprender. Se isso não é velhice, eu não sei o que é.

Não conto nada muito gostoso, então vou contar da coisa gostosa que comi: pizza lombo com catupiri da Sadia. Congelada, baratinha e tão boa, mas tão boa, nem parece uma pizza congelada de supermercado. Parece uma pizza, period. Ou talvez fosse a minha fome.

Por que as pessoas ligam pra fazer telemarketing para mim no meu telefone do trabalho? Que tipo de insânia é essa? Elas devem pensar que eu não trabalho, que vou até o trabalho e fico lá estaqueada como uma espantalha, atendendo um telefonema de telemarketing atrás do outro. Pessoas do marketing, olha, é MUITO contraproducente ligar para fazer telemarketing no telefone do trabalho das pessoas. MUITO MESMO. E isso nem é resmunguice de velha, isso é fato.

Eu estive dia desses (noite dessas) na frente de um lugar onde fui muito infeliz. Passei por ali e it gave me the creeps. Mas por que as coisas são assim? Preciso mesmo ficar atrelada às lembranças infelizes? Não dá para tentar ver o lugar de uma forma diferente? Eu não sei. E acho que esse apego a lembranças infelizes também é coisa de gente velha.

Carreguei um microondas e umas outras coisas aí durante o final de semana. Agora estou com uma dor absurda nas espáduas. Eu me lembro de carregar coisas e ficar faceira e pimpona depois, há menos de dez anos atrás. Isso é ser velha. Isso é velhice supersônica exponencial, que desaba sobre a cabeça da pessoa e ela envelhece instantaneamente. Quase como aquelas sopinhas de saquinho que você põe água quente, mexe e pronto. Uma velhice superinstantânea, com alto teor de sódio.

Eu gostaria de ir para a cama com o Coringa. O Coringa do Heath Ledger. Mas ele provavelmente ia só rir de mim e mais nada.
É triste quando a fantasia erótica da pessoa é ir pra cama com um vilão psicótico de gibi. Mais triste que isso só se eu quisesse pegar o Cauã Reymond (Raymond, Rain Man).

Tem gente que se acha. Ainda me espanto com isso. Mesmo velha e sem saco.
Eu me perdi e não me acho mais em parte alguma. Tem só essa velha sem saco aí no espelho dizendo que sou eu. Fico pensando se é uma piada, como ir para a cama com o Coringa e ele só rir de você e ir embora - você ali, pelada, super a fim de fazer loucuras e o louco himself a renega.

O tuíter, aquele, é uma coisa tão telegráfica. Vivemos num mundo telegráfico. Amores telegráficos, amigos telegráficos, orgasmos telegráficos. Só o trabalho continua extenso. O trabalho, esse sim, é um novelão em vinte tomos, caligrafados por um monge copista.

Eu tenho velhice instantânea, excesso de palavras acumuladas e nenhum saco.

2 comentários:

Liv Araújo disse...

Sabe o que a gente faz com palavras acumuladas? Shitspeaking? E o saco, já que cheio, dá vontade de dar seu conteúdo as criancinhas, no Natal, dizendo ho ho ho (mas com o sorriso do Coringa).

isabel alix disse...

Pobres criancinhas.

(heeee-hehehe-hehe)