quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

disgrama!

MINHA ILUSTRAÇÃO DO GIGER SE FUÉ.

devolve, blogger.

p!!!

Pois que dia desses ouvi a afirmação cheia de convicção, vinda de alguns meninos homossexuais, de que mulher gosta mesmo é de dinheiro e que quem gosta de p!ca é gay - subetendendo-se que, no glossário deles, gay = só e somente só homossexual masculino.
Não vou dizer que duvido, ou que discordo, até porque isso seria começar pelo fim, uma abordagem que venho tentando utilizar a vida toda e que vem reiteradamente demonstrando que não é a melhor escolha. Vou é começar pelo começo e enunciar minha surpresa com a afirmação, especialmente vinda de pessoas que, supõe-se, sejam partidárias da idéia de diversidade. É porque a afirmação de que mulher gosta somente de dinheiro e que somente quem gosta de homem e dos predicados do homem são os homossexuais masculinos me parece ter a mesma estrutura lógica daquela outra afirmação tão apreciada por gente bastante retrógrada, afirmação essa que se mostrou bastante equivocada no curso da história: que mulher gosta somente de homem e que somente quem gosta de mulher e dos predicados da mulher são os homens. Não parece a vocês a mesma estrutura lógica? A mim parece.
Tenho certeza que entre os homens tem bastante homossexuais e que esses não veem impeditivo algum entre eventual gosto pelo dinheiro e eventual gosto por outros homens e seus predicados. Deve existir também pessoas que gostam apenas de dinheiro e não gostam de gênero algum, assim como quem goste apenas do gênero que melhor lhe serve como parceiro, sem ter o menor apreço por dinheiro. Ou seja, tem gosto pra tudo e pra todo mundo. Daí que me soa de um simplicismo atroz colocar as coisas como aqueles garotos colocaram, especialmente por tudo o que se subentende: então, se você é homem e gosta de p!ca, isso significa que você não gosta de dinheiro? Então, o homem que gosta de dinheiro não gosta de p!ca? E quanto mais ele gostar de dinheiro, menos ele gostará de p!ca?
Ora, pessoal. Acho que descobrimos a fórmula do tesão eterno: é viver na miséria.

Mas pra você, homem ou mulher que, assim como eu, gosta de p!ca e de dinheiro:


quarta-feira, 29 de outubro de 2008

a ousadia da esperança

Tive que entrar para contar do sonho tão louco que me acometeu esta madrugada.

Entre os milhares de detalhes sórdidos e inexplicáveis, o mundo tinha se tornado um lugar onde as pessoas precisavam escolher se queriam reproduzir ou se queriam criar filhos. Algumas pessoas queriam reproduzir, daí se especializavam nisso e reproduziam aleatoriamente, porque trabalhavam como profissionais do sexo ou da indústria do cinema pornô. Outras pessoas queriam criar filhos, então começavam a se preparar desde muito pequenas para educar filhos. Havia uma coisa chamada O Baú, que cada pessoa que optava por criar filho tinha que ter. N'O Baú, ficavam todas as coisas que a pessoa tinha aprendido, era como um curriculum vitae enorme e impossível de transportar. Tinha meninas de seis anos que já tinham sido consideradas aptas pela análise do seu Baú, e estavam criando filhos de terceiros, que eram profissionais do sexo e da indústria do cinema pornô.

Cabe dizer, em defesa do meu inconsciente, que o cenário disso tudo era um mundo que tinha se acabado. Não havia mais livros, filmes, discos, computador. Não havia mais comida, não havia mais nada, só uma areia amarela e seca. Muito poucas pessoas tinham sobrado. Muito pouco acesso ao conhecimento tinha restado. Então as pessoas remanescentes resolveram se agrupar e produzir pessoas de uma forma taylorista, que é a narrada acima.

Tem toda uma história investigativa de uma moça em busca de sua misteriosa identidade, que é a linha condutora do sonho, ou seja, o sonho serviu como entretenimento também - embora um entretenimento com excesso de emoções, não precisava tanto. Mas a ousadia da esperança, expressão usada pelo prefeito reeleito Fogazza, acontece no final do sonho e aparentemente não tem nada a ver com a produção de seres humanos em série. É que no final do sonho começam a chegar pessoas numas barracas de feira, como aquelas que este município aqui construiu nos arredores do mercado público dessa cidade. As pessoas trazem hortifrutigranjeiros. Num mundo onde até então só havia areia amarela e seca e onde as pessoas se viam forçadas a comer outras pessoas, hortifrutigranjeiros são a própria ousadia da esperança. A esperança de não ser comido, de não se ver obrigado a comer o semelhante e sobretudo a esperança da restauração da vida, de que até mesmo o que passa pela mais séria hecatombe é capaz de se regenerar.

Ou isso ou o sonho é um aviso peremptório do meu corpo, POR FAVOR, VIRE VEGETARIANA.

o murro na ponta da faca

A mão esquerda vai cair. Ela vai. Estou sentindo. A dor deve ser uma necrose qualquer que ninguém sabe, uma necrose alien como os aliens de Giger. E um dia ela vai cair. E o que vou colocar no lugar? Um gancho.

E o gancho aqui é: doerá a mão esquerda em sua titilante tendinite por conta de estar esmurrando a ponta da faca todos os dias, durante as mesmas bat-horas no mesmo bat-local? Há quem diga, 'fulano cansou de dar murro em ponta de faca'; vos digo: esta fulana aqui também cansou. Mas o circo dos horrores ainda paga melhor do que qualquer outro lugar, e quem escolhe ser mãe de uma família sem pai precisa saber que está muito mais sujeita a esmurrar facas do que a arremessá-las.

Enquanto as mãos doem, faço planos, planos concretos. Remo nos porões das galés. Para parar com essa vida circense recheada de engrenagens ávidas por mastigá-lo inteiro. Um circo que não sai do lugar e de que você tampouco sai.

Pague para entrar. Não reze para sair, porque não adianta.
A mão amiga é essa mesma aí, gauche na vida e com tendinite. Mas ela é sua e por isso você sabe que pode confiar.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

a árvore cai na floresta e ninguém ouve

Tenho uma vida. Especialmente aqui dentro. Há conflitos. Há toda uma faixa de Gaza dentro de mim.
Só não divulgo. Não conto. Não anuncio. Não confesso.

Eu tenho uma vida. Mas ninguém sabe. Então, eu tenho uma vida?

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Cidinêi Chel, Dom

Quando vira a meia-noite e tendo lido certas coisas adequadas (ou inadequadas, dependerá do ponto de vista do leitor) o meu humor vira uma coisa tão incrivelmente Mr. Hyde que não é possível contê-lo e ele extravasa pelos dedos pelos poros pelo ar bafejado das narinas, em haustos disparados soprados que correm malucos sobre as teclas desse computador feito de duas caixas de papelão, um arame e um rolo de duréqui. Ele voa matreiro ligeiro e escreve as coisas mais geniais e totalmente ID-ílicas que guardo aqui no mais profundo escuro do baixio do ventre, lá onde tudo é eu e nada mais. Elas nascem cantando dançando loucas, desvairadas com olhos de personagem de Fernando Gonzalez e corpo de H.R. Giger, e elas querem dançar o frevo e pensam que são bonecos cabeçudos das ladeiras de Olinda.

Quando vira a meia-noite e tendo me intoxicado das coisas certas na sua exata medida - dois tylenol 750, dois pedaços de chocolate Tá-Lento com passas anciãs dentro, dois goles de coca cola sem gás e dois bocados de comida chinesa de dois dias atrás - os humores do corpo me nascem novos como se brotando pela primeira vez a seiva da maturescência dos hormônios peculiares que trazem a abstração e o conhecimento, essa coisa amorfa que se guarda a si mesma na raiz da mandrágora e também nos pedacinhos de gengibre. Novos os fluidos todos, brilham os olhos, brilha o cérebro, brilha tudo numa efusão goianense de Césio-137 pela percepção do velho com os olhos do novo, e é como se estivesse de novo agora com a idade do meu filho, trinta anos na cara mas treze anos no olhar e tudo parece delirantemente jovem-velho, é o olhar jovem desvestindo a traparia velha que cobre tudo o que não há de novo sob o sol.

O problema, que o senhor Cidinêi já sabia, é que a meia-noite tem duas metades, e sempre há a metade anterior que vem antes da posterior e que virá necessariamente após a posterior de novo, o outro lado da meia-noite que passo do lado errado do computador, do lado errado da sala, do lado errado dos papéis, do lado errado da rua, do lado errado do mundo, do lado errado da vida. E que me dão solidez segurança solidariedade para compartir esse mundico de meia-meia-noite com todas essas pessoas que amo e dependem de mim. E que nem sonham, nem sonham, o baile anárquico gomorreano e desenfreado que se instala nessa mente nesse corpo se houver adequadas condições de temperatura e pressão, se houver suficiente intoxicação pelos males da cultura con-fusion, se houver nenhum motivo para rir desvairada, se houver amanhã.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

incognito

Andei lendo por aí uns navegadores que permitem que você habilite um 'modo incógnito', também chamado 'modo pornô', que não armazena traços de coisa alguma, não deixa cookies, não registra a página no histórico, não tem cheiro e não solta as tiras. Amei muito, porque a coisa que mais gosto é o anonimato. Anonimato é quase como ser invisível, e já que sou invisível para tanta coisa boa, eu quero ser invisível para as ruins também.
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Só não quero ser invisível para quem amo - que é pouquíssima gente, convenhamos. Para esses, queria ser um enorme outdoor Las Vegas Style, berrando louca e frenética num festival de cores neônicas piscando num desenho amalucado digno de Pucci.
Sou um pavão que anda 99% do tempo com a cauda fechada, lowprofilemente. E, como todo pavão, meus pés são horrendos. E são a minha parte favorita do corpo.
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Só H.R. Giger compreenderia. É por isso que ele ilustra o que está ali em cima, a Mulher Galvanizada herself dando as boas vindas a você, ser de língua cilíndrica, pedindo-lhe mudamente com seus olhos vidrados, "mostre-me seus lugares escuUuUuUuros". Aprecio olhar as coisas bonitas, mas são as escabrosas que me conquistam, porque elas me intrigam. E Giger, vamos combinar, fez coisas deliciosamente lindas com elementos escabrosos. Amo Giger quando vejo seu trabalho. Esses alemães da arte. Ah.
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Não gosto de deixar traços. Paradoxalmente, tem esse blog. Porque paradoxos são gostosinhos. E porque, já que não dá para existir sem deixar resíduos, então deixe eu enfiar o pé na jaca dos meus paradoxos. Não tenho como ganhar essa briga, então nem vou começar a brigar.
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E, para terminar, eu preciso dizer: JAMAIS PENSEI QUE FOSSE ASSIM.